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Japao100.com.br, 28/08/2008

Over Moyashi – reinvenções de um Japão inventado e brasileiro

ARTIGO ERIKA KOBAYASHI

Guilherme Maranhão
Artistas do coletivo Moyashis realizam intervenção artística durante a Semana Cultural Brasil-Japão, em junho

Voltando dois meses no passado, eu estava em São Paulo, encerrando a Semana Cultural Brasil-Japão com uma equipe sensacional*. Fui para o Brasil passar o mês de junho lá porque eu queria VIVER o centenário na imigração japonesa.

Chiaki Karen Tada
Painel colorido de Thais Ueda, na Invasão Tsunami, realizada durante o Bunka Matsuri

Meu “plano A” era organizar a exposição “Invasão TSUNAMI” (que aconteceu em maio no Bunkyo, Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Assistência Social) e acompanhar todas as exposições de arte em São Paulo que estavam ligadas ao centenário, além de dar uma volta no porto de Santos no dia 18 de junho.

O que aconteceu: eu e Flávia Yumi Sakai fomos convidadas para migrar para a Semana Cultural Brasil-Japão – uma das principais comemorações do centenário no Anhembi, em São Paulo, que aconteceu em junho - e pegamos o navio com todos os moyashis que puderam/quiseram embarcar com a gente. Me internei na Fundação Japão, com o Jo e a Sofia, e na sede da Kiai, espaço cultural coordenado por mim e pela Flávia. Depois, nos internamos todos no Anhembi.

E das exposições… Bem, consegui ver uma performance do Shima na Galeria Deco, que valeu muito a pena, e a exposição de bonecos do Yuki Atae, no penúltimo dia da Semana Cultural.

Reinvenção do Japão inventado

Se hoje os moyashis participam deste debate do que é cultura japonesa no Brasil atualmente, passados 100 anos da chegada dos primeiros imigrantes, isso tem a ver com toda essa “equipe sensacional ” e com várias outras pessoas que não foram citadas, mas que participam deste debate com a gente.

Patricia Giuffrida
Menino participa da Invasão Moyashis, realizada na Semana Cultural Brasil-Japão

O centenário foi uma grande oportunidade para que aqueles que estavam fora do circuito “arte japonesa” (expressão geralmente associada às artes tradicionais ou artistas de renome) pudessem ajudar não apenas a construir como a DIVULGAR a arte e a cultura japonesas sob novos olhares (no plural mesmo, porque há muitos).

Isso tudo, de uma certa forma, foi tema da palestra “a Reinvenção do Japão inventado - a experiência do coletivo de artistas moyashis” (realizado na mesma Semana Cultural), que falava exatamente disso: essa “coisa” chamada “cultura japonesa”, criada e divulgada pelos imigrantes e descendentes nestes cem anos (o tal do Japão inventado), e a reinvenção desta cultura inventada (que é a proposta dos moyashis, quando os artistas se inspiram, digerem, refletem, customizam etc. a produção artística do passado e do presente, do Brasil e do Japão, e transpõem isso para os seus trabalhos).

Conversas e trocas que, no caso dos moyashis, ficavam restritos à nossa lista de discussão. Lista que inclui outros artistas que não carregam este rótulo — calma que eu já chego nele —, mas que estão sempre próximos, debatendo junto com a gente, como James Kudo, Shima, o assessor de imprensa Érico Marmiroli, que sempre alimenta nosso calendário de eventos, ou bate-papos em estúdios e ateliês - ou, no meu caso, que estou longe, de longos papos no skype ou, então, morram de inveja, tomando um café com o Plinio em Paris. Essas conversas e trocas se transformaram em exposições, animações, palestras, performances. E continuarão, como acontecerá agora, em outubro, com a participação dos moyashis no Japan Experience.

A experiência do coletivo de artistas moyashis é apenas um pedacinho desta grande reflexão que está sendo feita em relação à arte e cultura japonesa produzidas no Brasil. O calendário de eventos é imenso e mostra o trabalho de vários artistas. Mesmo eventos que não estão diretamente ligados ao centenário da imigração japonesa reúnem artistas que tangenciam este debate (e não me surpreenderia saber detalhes de bastidores que revelam que um ou outro nome foi chegando em curadores e galeristas em função do zumzum gerado pelo centenário).

Seleciono três (TRÊS!!!) exposições que estão frescas na minha caixa de e-mails, boas dicas para quem quer mergulhar um pouco neste universo:

Kasato Maru — Permanência do Olhar, no Sesc Santana (São Paulo), até 26 de outubro, com Hana*bi, Titi Freak, Cisma e Tinho (os destaques, na minha opinião).

Arte Brasileira Contemporânea — 18 propostas, com inaguração no dia 30 de agosto na Galeria Murilo Castro, em Belo Horizonte (quem estiver em BH, saiba que tem show de Fernanda Takai e Pizzicato Five renascido das cinzas na sexta), com James Kudo, Rogério Degaki e Elisa Sassi.

Heranças do Japão, 100 Anos de Imigração Japonesa no Brasil, que abre no dia 1 de setembro, no Espaço Cultural Casa do Lago/Unicamp (Campinas, SP), com James Kudo, Kako, Mai Fujimoto e performance de Shima.

É coisa pra caramba.

“Quem, afinal, é moyashi?”, ou melhor, “O que é ser moyashi ? ”

Fotos reprodução
Obras de Amanda Grazini e Elisa Sassi, que fazem parte desta construção de um Japão reinventado

No Anhembi, eu cansei de dar entrevistas falando sobre isso. E a frase vinha já no piloto automático: “Artistas contemporâneos brasileiros descendentes ou não de japoneses que se inspiram em imagens do Japão tradicional e contemporâneo em suas criações”. Falei isso, sem brincadeira, mais de 50 vezes durante uma semana, para muitos jornalistas que se interessaram pela guerrilha artística que fizemos no Anhembi, exatamente pelo contraste do que foi apresentado com o que sempre se costuma ser mostrado como “cultura japonesa”.

Acho que, em 2005, quando um pequeno grupo começou a se reunir (eu, Flávia Yumi Sakai, Kako, Bruno D’Angelo, Carlo Giovani e Juliana Vidigal), este discurso fazia mais sentido. Eu e Flávia tínhamos notado “uma coisa meio japonesa” na maneira de se expressar de alguns artistas, e este foi o mote para o início de um debate que eclodiu na Semana Cultural.

Depois de muito repetir esta frase em dez dias, conhecer o trabalho de outros artistas que não estão só no Brasil, de nomes brasileiros que vieram neste boom do centenário, de fazer reunião com os moyashis (e “não-moyashis”), de participar de outros eventos e criar outros conceitos (necessidade que veio da Invasão Moyashis no Anhembi, como foi o caso da nossa participação no Paralela Gift, realizada em agosto de 2008), senti que o discurso do nosso coletivo de artistas anda defasado.

Na preparação da palestra já citada, ao colher imagens para exibir durante a apresentação, deparei-me com outros artistas que eu sentia terem uma busca muito parecida com a nossa e que não se encaixavam na tal descrição. Tem algo que eu não falei tão explicitamente em todas as entrevistas que dei sobre o coletivo, mas que implicitamente se encontra no nosso trabalho, que é o fato de estarmos em busca constante, em pesquisa, com idéias brotando, proliferando, sempre brotos, achando que tem muito chão pela frente (só para chegar bem perto dos japoneses, que vêem o dia amanhecer 12 horas antes da gente, temos que correr muito…).

E, mesmo tendo um rótulo bacana como “espírito de principiante” (shoshin), no sentido de buscar constantemente a evolução (e não de amadorismo), me liguei que o rótulo poderia ser excludente.

E quem não é brasileiro? E quando não tem o Japão na jogada? E se o Carlo Giovani fizer uma exposição que não tem a ver com o Japão (como é o caso de “1/2 dúzia de idéias”, expostas na Plastik desde 26 de agosto), por que ela entra no blog dos moyashis? E a estilista de bolsas do Second Life, Jen Blackhawk, que já participou de uma exposição nossa e ajudou na criação dos stickers virando arte aplicada? Ela é o quê?

E surgiu uma outra etiqueta, um pote maior, para abrigar outras pessoas que têm uma busca semelhante ou até mesmo aquelas que nos inspiram: “over moyashi”. Não se trata de uma grande baciada para abrigar todo mundo, mas muito mais de descobrir quais são os caminhos sutis que ligam um pote de um broto de feijão ao outro, que fazem um algodão mais molhado dividir sua fonte de energia com aquele outro um pouco menor, é pegar um navio que voe e nos leve para uma janela mais ampla e iluminada.

Sejam bem-vindos todos que estão nesta troca, criação, divulgação, pesquisa, inspiração artística e na construção de um imaginário sem fronteiras: Jo Takahashi, Sofia Kamatani, Cláudio Kurita, Karen Tada, Elaine Komatsu, Gil Tokio, Letícia Shinotsuka, Daniel Kenzo Ogushi, Amanda Grazini, Jen Blackhawk, Shirotama Hitujiya, Elisa Sassi, James Kudo, Érico Marmiroli, Shima, Takashi Murakami, Erika Horigoshi, Rachel Hoshino, Livia Torres e Helena Pimenta, Keiji Kunigami, Letícia Sekito, Koichi Mori, Christine Greiner, Maiko Miyazaki, Aya Kato, Fréderic Boilet, Haruki Murakami, Tadashi Endo.

Para finalizar, além das boas-vindas, deixo o texto da curadoria da exposição que ocorreu na Semana Cultural Brasil-Japão, que é um resumo disso tudo:

“Na vida, há algo que resta.

Pegamos carona rumo a uma viagem em busca da memória construída nestes cem anos.
Nas paisagens, encontramos a memória do agora. A memória pra frente.
Memória daquilo que sequer conhecemos e que se reflete como um sonho translúcido de um Japão longe.

O que aqui se projeta é um Japão perto, presente e brasileiro.”

Erika Kobayashi, jornalista, escritora e pesquisadora, vive em Paris, onde faz mestrado sobre mulheres japonesas na Sorbonne, e escreve no blog Moyashis.

*cito os nomes aqui em baixo NÃO para puxar o saco, mas para fazer presente pessoas que se uniram para fazer os moyashis acontecerem naqueles dez dias:

Jo Takahashi e Sofia Kamatani, da organização (convidaram os moyashis para participarem do evento, acreditaram no nosso trabalho); Flávia Yumi Sakai, minha sócia e querida amiga, irmã de descobertas e de KIAI (sou suspeita pata falar qualquer coisa a mais); Plinio Ribeiro Jr. e Fernando Saiki, artistas sensíveis, amigos e que foram fiéis escudeiros (e continuam sendo, são os dois homens mais importantes da minha vida além do meu pai), Cláudio Kurita e toda a equipe de voluntários que ele coordena (nunca vi tanta energia para colocar o Anhembi literalmente de pé); Camilla, Penélope e Karina, da Rock, que deram a maior força na produção; DKO (Daniel Kenzo Ogushi), que desenhou o nosso carrinho; os moyashis que participaram tanto da exposição (Flávia, Plinio, Saiki, Sofia e DKO, já citados, além de Gil Tokio, Kako, Daniela Picoral, Guilherme Maranhão, Hana*bi) quanto das palestras (Flávia de novo, Carlo Giovani, Bruno D’Angelo e Ricardo Giassetti, que acabam de lançar o livro O Catador de Batatas e o Filho da Costureira); a equipe do projeto Abril no Centenário da Imigração, tanto pela cobertura, quanto pela internação do Anhembi e pelo patrocínio (Alfredo Ogawa, Gabriela Yamaguchi, Elaine Komatsu, Karen Tada e todos os jornalistas e fotógrafos envolvidos na cobertura do evento). “Por acreditatem no nosso projeto” (pronto, depois dessa, eu páro com o discurso de miss, sem antes citar a Leila Reis, que apostou na gente antes de todo mundo dando um imenso apoio com a assessoria de imprensa dos moyashis, e a Christine Greiner, uma das curadoras do evento, que estava presente sem estar presente, super mestra que, sem saber, fez com que seus cursos na Fundação Japão aproximassem muitos artistas, produtores e divulgadores culturais que refletem seriamente sobre sobre cultura japonesa no Brasil).

 
 

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