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  Conte sua históriaTakeshi Misumi › Minha história

Takeshi Misumi

São Paulo / SP - Brasil
77 anos, Administrador de Empresas e Contador

A Inseparável Mesa da Família Misumi


Oi,
Eu sou a MESA, a MESA MISUMI.
Já estou velha! Nasci em .... Talvez 1929..., 1930... ou 1931. Não me lembro direito quando nasci.
Nasci pelas mãos do Sr. Nakamura que morava em Araçatuba-SP, na mesma colônia rural chamada Cafezópolis, onde residia a família MISUMI. Fui morar com esta família. Era o Sr. Tadao Misumi, chefe de família, Haru Misumi e seus filhos Iku, Tadahide, Tatsuo, Fussae, Noboru, Tokiko e Daishiro que viria a nascer em 1930. A caçula da família, Katsuko nasceu anos mais tarde, em 1938.
Na família MISUMI tive momentos alegres, felizes, mas também de muita tristeza, muito sofrimento.
A Iku casou-se com o Sr. Umeichi Shimaoka em abril de 1932, e foi morar em Pereira Barreto. Houve alguns anos que o Tadahide foi morar em São Paulo, mas logo retornou.
Fiquei feliz quando o Tadahide casou-se com a Matsuyo da família Amano, que morava além-córrego. O casamento foi um acontecimento muito comemorado. Era foguetório de um lado do córrego anunciando a despedida da noiva de sua família, e transmitindo a mensagem para o pessoal do outro lado do córrego de que estava a caminho da família Misumi. O casamento do primogênito da família Misumi foi comemorado com muita pinga. Foi uma festa de arromba para aqueles japoneses sofridos. Muitos se esbaldaram tanto que foram encontrados no amanhecer do dia seguinte, dormindo no meio do pasto e do cafezal. Era o dia 15 de agosto de 1939. No dia 31 do mesmo mês a Fussae casou-se com o Tadashi Sawada.
A grande tristeza aconteceu em 1940. Logo após a morte da Iku em fevereiro, deixando viúvo o Sr. Shimaoka e três crianças pequenas - Yoshiko, Shiroshi e Eiko, faleceu a mamãe Haru em junho de 1940. Coitadas. Sofreram tanto nesta terra tão distante do Japão e desconhecida que é o Brasil.
E quando aconteceu a II Grande Guerra Mundial?! Foi uma tristeza enorme. O Japão de um lado e o Brasil de outro. Os japoneses no Brasil sofreram muito. Quanta perseguição! Quanta humilhação! Era um sofrer cotidiano. Mesmo depois que acabou a guerra. Era japonês perseguindo japonês. Por causa da comunicação precária, alguns japoneses acreditavam que o Japão tinha vencido a guerra e perseguiam aqueles que achavam que o Japão tinha perdido a guerra. Nem gosto de lembrar dessa época.
Foi muito triste também quando o Sr. Tadao faleceu. Foi em setembro de 1944. Ele era o líder da região. Foi Presidente do Kaikan de Cafezópolis por muitos anos, e Vice-Presidente da Noroeste Rengo Kai (Confederação das Associações Japonesas da Noroeste) trabalhando muito pela colônia japonesa.
O casal Tadahide e Matsuyo assumiu a incumbência de cuidar da família Misumi. Aos poucos outros irmãos foram se casando. Vi muita mudança. O Tatsuo casou-se com a Fumico Nishioka em dezembro de 1948, a Tokiko com o Chuichi Sakaya em junho de 1946, e o Noboru com a Hideko Hatanaka em janeiro de 1951. O Daishiro viria a casar anos mais tarde com a Júlia Yamada (janeiro de 1969) .
Moramos em Araçatuba até 1950. Mudamos para Andradina, onde vivemos até 1960. Era a família Tadahide e Matsuyo que crescia. Passei a ter a companhia não somente da Katsuko que permaneceu na família, mas também dos filhos do casal, Hideko, Teruko, Takeshi, Kiyoshi, Jorge, Yoshiaki e Akemi. A filha Nobuko tinha falecido em Araçatuba aos 5 anos de idade.
Foi em Andradina que encolhi de tamanho. Além de cortarem o meu tampo, trocaram as minhas pernas. Diminui quase um metro; fiquei diferente. Fiquei triste também, mas era o meu destino. Era necessário.
A grande guinada aconteceu em 1960, quando a família se mudou para São Paulo. Fomos morar na Vila Madalena. Lá fiquei com a família do casal Tadahide e Matsuyo até 1979. Nesse período a família foi diminuindo. A Katsuko casou com o Paulo Yamashita e foram para Jales. A Hideko casou-se com o Arthur Matsumoto. O Takeshi com a Norika Sato. Mudamos então para o bairro do Butantã. Depois o Jorge casou com a Luci Ohara, e o Yoshiaki com a Toshimi Shimbo.
Hoje vivo aqui na Chácara dos Misumi. Espero continuar para sempre aqui junto com o “itchoo” (ginkgo biloba) que nasceu em 1980 pelas mãos da mamãe Matsuyo e foi replantado aqui na chácara em 20 de agosto de 2000.
Foram tantos anos vividos que a minha memória não se lembra de muitas coisas que vi. Fui usada para muitas utilidades. Mais do que mil e uma utilidades. Em cima de mim teve época de muita comida. Época de pouquíssima comida. Que tristeza! Fui usada também para os estudos, para corte e costura - vejam as marcas que ficaram. Até como proteção contra tempestades! Quando as telhas da casa começavam a cair, as pessoas ficavam embaixo do meu tampo. Ouvi muitas discussões, muito choro, muito riso.
Se você se lembra de algumas histórias, ajude-me a contá-las para quem quiser saber.
Quero continuar junto com o “itchoo” para representar a longevidade da família Misumi. Quero que os descendentes nunca se esqueçam do sofrimento, da luta, das tristezas, das dores, das alegrias que os precursores tiveram que passar para que a família Misumi pudesse progredir tanto.
Eu vi tudo isso!

1º de maio de 2002
Assinado: A MESA

P.S. Desde que escrevi este relato, vários acontecimentos marcaram a vida dos Misumi. Fatos alegres e tristes que em breve pretendo contar a vocês.


Enviada em: 01/07/2008 | Última modificação: 09/07/2008
 
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Comentários

  1. Cristiane Y Nakata (ex-escoteira falcão) @ 17 Jul, 2008 : 20:00
    Oi Takeshi! É a Cristiane... lembra de mim? Admiro a educação que dá para sua família... Abraços! Cris.

  2. Denise Misumi @ 30 Jul, 2008 : 00:42
    Tio, muito lindas as suas histórias! Nao consegui conter as lágrimas lendo "Conversando através do coração". Ainda me emociono relendo-a. Já pensou em fazer um livro contando essas e mais histórias?? Abraços, Denise

  3. Takeshi Misumi @ 3 Ago, 2008 : 18:08
    Denise, obrigadão pelos comentários. Fiquei muito satisfeito e feliz em saber que você se sensibilizou com os meus relatos. Aliás, o meu propósito em me expor neste espaço aberto pela Editora Abril foi tão-somente de tentar sensibilizar os descendentes, principalmente os jovens como você, sobre o sofrimento que os imigrantes passaram. Muito do que nós usufruimos hoje foi graças a eles. Todo o passado vivido e sofrido por eles não pode cair no esquecimento. Cumpre a cada um de nós desempenhar o papel que nos cabe. Quem, no presente, souber reconhecer o passado, saberá construir um futuro melhor. Quanto ao livro, até pensei no assunto. Mas, é um projeto muito grandioso para mim. Não sei se teria condições de realizar este sonho. Acredito que essa tarefa seria mais fácil, se for possível contar com a ajuda de outras pessoas. Abração.

  4. Julio Misumi @ 11 Set, 2008 : 19:11
    Oi Takeshi. Li o relato da mesa, em cima dela na chacara. Ao ler aqui, me emociona saber que ela passou por muitos momentos com a familia, bem antes de nascermos. Quantas conversas e refeições foram feitas nela, por nossos avós e seus filhos (nosso pais)? Quanta utilidade para varias gerações? Ela faz parte da familia e suas cicatrizes foram feitas por alguém da familia em algum momento. Representa bem o passado sofrido e a determinação que nossos antepassados tiveram, para que as futuras gerações (nós e nossos filhos) pudessemos ter uma vida melhor que eles. Obrigado pelo que voce faz pela familia e no que eu puder ajudar, conte comigo. Um abraço

  5. Filhos da Satiko @ 14 Dez, 2008 : 23:47
    Oi Tio, Que legal...Sim, ela tinha olhos grandes e um sorriso radiante, característica marcante dela...Ela era linda e foi uma mãe perfeita pra nós. Agradecemos a mensagem e tudo que vc e a tia fizeram por ela e por nós. Um beijão. Duda, Thie, Fabio e Livia

  6. mario katsuhiko kimura @ 14 Fev, 2009 : 15:48
    Sr. Takeshi, Sou leitor das historias contadas neste Site e agora sou também seu fã. O Sr. deveria ser contador de historia e não contador/administrador. A sua maneira de escrever, contar historia da família através da historia da mesa é de altíssima criatividade, mostrando ser uma pessoa erudita, sábia e inteligente. Acredito ter herdado os valores do seu falecido avô. Como disse um dos entes da família no comentário, o senhor deveria escrever livros. Parabéns e continue a escrever para todos nós. Grande abraço

  7. Julio Misumi @ 31 Mar, 2009 : 13:10
    Oi Takeshi. Eu acho que fui ao casamento da Tia Katsuko e poucas vezes a vi depois disso. Me lembro que durante muitos tempo meus foram iam a Jales visita-la. E tenho certeza que ela desafiou e venceu a morte por dezessete anos, pois meus pais diziam que ela os reconhecia a cada visita. Obrigado sempre e um abraço.

  8. Silvio Sano @ 1 Abr, 2009 : 02:38
    Prezado Takeshi, Depois de muito tempo sem abrir este site para ler as histórias dos colegas, "hisashiburini", fi-lo, tarde da noite de ontem, atraído por um leitor seu fora da família (o Mário Kimura, aí, logo acima). Daí, comecei pela leitura da Tia Katsuko. Contente pelo que fui contemplado, prossegui com as demais, debaixo para cima, porque sabia que a seqüência seria essa. A forma como as narra é muito interessante porque torna universais mesmo os seus mais íntimos personagens. Daí porque "tocou" ao Mário, a mim e, com certeza, a todos os que as lerem (não apenas parentes ou pessoas de seu círculo). Em alguns momentos também me emocionei e, por isso achei que não seria o momento adequado para deixar aqui o meu comentário. Conclui que seria injusto com vc, e que deveria fazê-lo sem que me deixasse levar pela emoção. Algo verdadeiramente sincero. Ou seja, para que o tamanho da satisfação que eu demonstrasse não fosse considerada exagerada devido a isso. Assim, aguardando, até este momento, de "cabeça fria", mas garantindo que a emoção pela leitura ainda permanece viva em mim, cumprimento-o principalmente pela sensibilidade e percepção em relação a outrem, que o levaram também a "conversar através do coração", e de forma a "tocar o fundo da alma" de seus leitores. Parabéns e um grande abraço.

  9. Silvio Sano @ 7 Abr, 2009 : 00:37
    Prezado Takeshi, O jeito que vc exagerou nos elogios, na verdade, só veio comprovar para mim, o quão criativo é para escrever textos (rsrs). Mas, agradeço pela parte não exagerada, que sei, foi sincera. E não apenas o parabenizo por suas virtudes, como, pela citação ao Mário Tomita, acabei ligando para ele, a fim de saber um pouco mais sobre a sua pessoa, mas sugerindo-lhe também para que publique algumas coisas suas no jornal. Ele concordou afirmando que, sendo pra vc, um dos primeiros assinantes dele, o faria com imenso prazer. Que tal atendê-lo então com um artigo, ou uma crônica, esporadicamente... pra começar? Não apenas ele, mas, nós também, leitores, ficaremos muito felizes. Yoroshikune. Abs.

  10. Edson Correa Porto @ 9 Abr, 2009 : 00:36
    E eu que pensei que vc só escrevesse relatórios; parabéns pela sensibilidade; vc sempre surpreendendo. Abraço

  11. Mario Katsuhiko Kimura @ 17 Jun, 2009 : 23:43
    Sr. Takeshi, Só o senhor consegue prestar homenagem aos idosos na forma acima transcrita. Isso mostra a sua grandeza, de ser uma pessoa culta, iluminada. Obrigado por proporcionar a este leitor o prazer de ler, sentir e também emocionar. Grande abraço

  12. Takeshi Misumi @ 16 Mar, 2010 : 07:51
    Teste

  13. Silvio Sano @ 16 Mar, 2010 : 09:34
    Olá, Takeshi-san. Bondade sua. Eu é que fiquei muito feliz com a sua presença e, bem como com a de sua esposa. E ainda bem que o Mário estava lá, né. Bom, aproveito para te solicitar para que veja como será o próximo livro. Link em http://www.youtube.com/watch?v=OfULKT3Beqk A propósito, conhece o Nikkeypedia? Lá vc tb poderá colocar a sua, de seus pais, avós e amigos, histórias. A minha está em http://www.nikkeypedia.org.br/index.php/Silvio_Sano

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